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Atualidades do mercado doméstico da carne ovina

A produção formal de carne ovina no mercado brasileiro, tendo como referência os abates sob inspeção federal, por mais um ano consecutivo, sofreu uma acentuada queda em seus números, fechando o ano de 2013 com um volume de abates (barras em azul, valores à esquerda) de 129,0 mil cabeças, configurando uma queda de 45,7 pontos percentuais em relação aos resultados alcançados em 2012, conforme o Gráfico 1.

A partir dos dados disponibilizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA) é possível estimar uma produção (linha em vermelho, valores à direita) de aproximadamente 2,06 mil toneladas de carne ovina em 2013, quantidade esta que se aproxima dos valores alcançados em 2004.

Em relação ao presente ano, os registros oficiais demonstram que no primeiro semestre foi abatido um volume de 58,1 mil cabeças, constituindo uma retração de 21,4% em comparação ao mesmo período de 2013, de acordo com o Gráfico 2.

Com isso, o volume de abates em 2014.1 alcançou apenas 78,6% da escala registrada no primeiro semestre de 2013, gerando uma produção estimada de 0,93 mil toneladas e confirmando mais um ano consecutivo de redução na produção doméstica, o que deve incorrer em leve alta nas cotações do cordeiro doméstico, apesar da não computação dos abates sob inspeção estadual.

Em 2013, assim como em 2012, praticamente, todos os Estados com participação relevante na produção doméstica (Gráfico 3) apresentaram significativas reduções em suas escalas, no entanto, a configuração da produção não sofreu maiores alterações.

Conforme o Gráfico 3, a tradicional liderança do Rio Grande do Sul permanece, com um volume de abates atingindo a marca das 96,7 mil cabeças, cerca de 49,3% menor quando comparado à 2012, o que correspondeu a um déficit de 94,2 mil animais. No Estado de São Paulo, 2013 fechou com um volume de 13,5 mil unidades e queda de 43,6%, o que representou menos 10,4 mil cabeças na escala de abate dos frigoríficos, em relação ao ano anterior. Por sua vez, Bahia, Sergipe e Mato Grosso do Sul, apresentaram retração de 10,1, 34,6 e 54,2%, respectivamente, confirmando que a queda contínua nos abates é um fenômeno nacional, embora os reais motivos ainda não estejam completamente esclarecidos.

Em 2013, as importações brasileiras de carne ovina (Gráfico 4) atingiram a marca das 8,86 mil toneladas (peso de embarque), um incremento de 35,8% comparado à 2012, com um valor de US$ 45,8 milhões de dólares, aproximadamente 27,1 pontos percentuais acima dos valores alcançados no ano anterior.

Embora tenha havido um discreto crescimento (3,7%) no efetivo de cria do Uruguai em 2013 comparado a 2011, a produção uruguaia se elevou em mais de 40% nesse mesmo período, por meio do aumento no volume de abate em todas as categorias, indicando uma nova redução do rebanho ovino uruguaio no curto prazo.

Com isso, o volume das exportações se elevou significativamente, de forma que, em 2013, o montante embarcado para o Brasil foi superior em cerca de 42,1% ao de 2012, como resultado, sobretudo, da maior produção uruguaia.

No que se refere ao presente ano, a tendência crescente parece se manter, uma vez que, nesse primeiro semestre, o volume das importações brasileiras se elevou em 17,3% com relação a 2013.1, alcançando as 4,67 mil toneladas, de acordo com o Gráfico 5.

Do total importado em 2014.1, cerca de 87,8% teve origem no Uruguai, enquanto o restante se dividiu entre Argentina, Chile e Nova Zelândia, os quais participaram com 6,1, 5,3 e 0,8 pontos percentuais, respectivamente.

Por outro lado, o destino dos embarques foi diverso, como é possível observar no Gráfico 6.

Do total embarcado em 2014.1, quase 96% foi destinado aos estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio Grande, São Paulo e Pernambuco, com participação discreta do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará e Bahia. No entanto, grande parte da carne ovina que chega ao Mato Grosso do Sul e ao Rio Grande do Sul é redirecionada para o setor varejista de São Paulo.

Acompanhando a trajetória do volume, o valor das importações (free on board) cresceu 27,4% (Gráfico 7) em 2014.1, fechando o semestre nos 24,7 milhões de dólares, como resultado não apenas do crescimento do volume mas, também, da valorização da carne ovina no mercado internacional em função da menor oferta nos últimos anos.

Com o dólar fechando o primeiro semestre de 2014 em uma média de R$ 2,29, os preços dos produtos importados, conforme a Tabela 1 abaixo, continuam permanecendo bastante atrativos para os setores de processamento e varejo, considerando os preços ao produtor e ao consumidor praticados no mercado interno, e as amplas margens trabalhadas por esses elos.

Consequentemente, a associação entre a maior disponibilidade de produto uruguaio para o Brasil e os preços atrativos impulsionou as importações em 2013, compensando em parte a redução na produção doméstica, de forma que a disponibilidade interna formal (Gráfico 8), nos principais centros de consumo do país, fechou o ano com uma alta de 5,9%, alcançando o patamar das 10,9 mil toneladas.

Com isso, a participação dos produtos importados no mercado interno saltou de 63,1% em 2012 para 81,1% em 2013, tornando a cadeia produtiva brasileira predominantemente dependente do mercado externo.

Com a redução de 21,4% na produção formal doméstica em 2014.1, o aumento de 17,3% nas importações no referente semestre manteve o saldo positivo da oferta, de forma que o volume de carne ovina disponibilizada no mercado nacional fechou em alta de 8,4 pontos percentuais em relação à 2013.1, alcançando 5,60 mil toneladas e mantendo uma relativa estabilidade a nível de consumo, de acordo com o Gráfico 9.


Apesar da maior oferta de carne ovina no mercado interno em 2013, os preços nominais do cordeiro (em R$/kg carcaça, Gráfico 10) permaneceram aquecidos em relação à 2012, com altas de 1,4, 3,0 e 7,3% nas praças do Rio Grande do Sul, São Paulo e Bahia, respectivamente.

Com isso, as cotações encerraram o ano com uma média de R$ 8,62 no Rio Grande, R$ 9,34 na Bahia e R$ 11,72 em São Paulo, sendo reguladas de forma diretamente proporcional, sobretudo, pela oferta, uma vez que a demanda permanece sob condição de estabilidade e sem significativa influência sobre os preços ao produtor.

Considerando os valores nominais e os respectivos períodos analisados, o cordeiro apresentou uma variação de 131,2% na Bahia e de 41,8% no Rio Grande do Sul ao longo dos últimos 10 anos, e de 44,0% desde 2009 em São Paulo. No entanto, quando tais valores são corrigidos pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, da Fundação Getúlio Vargas) e o efeito da inflação é inserido na análise, verifica-se que até o ano de 2007 o cordeiro passou por um forte processo de desvalorização no Rio Grande e na Bahia, passando a um ciclo de valorização real somente a partir de 2008, o qual tem sido afetado negativamente nos últimos dois anos, conforme o Gráfico 11.

Apesar da variação positiva nos preços deflacionados na Bahia (24,2%) e em São Paulo (15,5%) ao longo do período analisado, houve quedas reais em todas as regiões em 2013, com a remuneração dos produtores retraindo 0,7, 4,6 e 6,2% nas praças baiana, paulista e gaúcha, respectivamente, em comparação a 2012.

Com relação aos preços nominais, os valores desse primeiro semestre de 2014 apresentaram um balanço positivo quando comparados à 2013.1, registrando-se altas de 6,9, 17,5 e 1,1 pontos percentuais com fechamento em médias de R$ 8,84 no Rio Grande do Sul, R$ 10,32 na Bahia e R$ 11,53 em São Paulo, respectivamente, conforme Gráfico 12.


Os resultados do primeiro semestre de 2014 apontam para uma nova retração na produção doméstica SIFada, crescimento das importações, aumento na disponibilidade interna e leves incrementos nos preços nominais ao produtor, sustentando uma perspectiva relativamente favorável para o segundo semestre do presente ano que, por sua vez, tende a fechar com melhores resultados gerais do que o anterior.

Fontes consultadas

EMATER-RS. Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural.
FGV. Fundação Getúlio Vargas.
INAC. Instituto Nacional de Carnes.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
SEAGRI-BA. Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia.
UNICETEX-USP. Centro de Inovação Tecológica e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.

O autor desse conteúdo: Daniel de Araújo Souza    Fortaleza – Ceará
Médico Veterinário, MBA, M.Sc.. Atualmente, realiza Doutorado em Zootecnia (UFC), sendo especializado no sistema agroindustrial da carne ovina. Consultor da Prime ASC – Advanced Sheep Consulting. Facebook.com/prime.asc Twitter.com/prime_asc

Fonte: Farmpoint

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