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Lã perde espaço nas exportações neozelandesas

Cerca de três décadas atrás, quando Andrew Fraser começou a criar ovelhas, a lã era um dos itens de destaque na pauta de exportações da Nova Zelândia. Outros produtos da ovinocultura – carne de carneiro e cordeiro – eram atores coadjuvantes. Hoje, a situação se inverteu. As exportações de carne ovina estão em alta, enquanto a lã enfrenta a crescente concorrência das fibras sintéticas. Embora a criação de ovelhas ainda esteja entremeada ao tecido cultural da identidade neozelandesa, trata-se agora de outra atividade econômica, que este país está reestruturando para o mundo globalizado.

“A lã foi – e ainda é – um ótimo produto”, disse Fraser. “O problema é que agora um produto semelhante pode ser manufaturado com garrafas usadas de Coca-Cola e com todo o tipo de coisa.” De 1982 a 2011, a população de ovinos da Nova Zelândia declinou de 70,2 milhões para 31,1 milhões, de acordo com dados do governo, já que muitas pastagens dos rebanhos de ovelhas foram transformadas em fazendas leiteiras ou passaram a ter outros usos. Os aproximadamente 17 mil criadores que permanecem no negócio ainda ganham dinheiro com a venda do velo de seus animais. Mas, em muitas fazendas de ovinos, a carne substituiu a lã como a principal fonte de lucro.

Desde 1990, o valor anual das exportações neozelandesas de lã bruta e produtos manufaturados de lã caiu de cerca de US$ 1,2 bilhão de dólares para US$ 700 milhões, de acordo com dados oficiais. Ao mesmo tempo, as exportações de carne de carneiro e de cordeiro aumentaram quase três vezes, passando para US$ 2,3 bilhões. As exportações de produtos lácteos, que representavam US$ 1,9 bilhão em 1992, deram um salto para US$ 14,1 bilhões.

Com 4,4 milhões de habitantes, a Nova Zelândia é o terceiro maior produtor mundial de lã, atrás da Austrália e da China, segundo a entidade pecuarista Beef and Lamb New Zealand.O país fornece 45% de toda a lã usada para a fabricação de tapetes no mundo, segundo relatório divulgado no ano passado pelo Grupo Bancário da Austrália e Nova Zelândia. Porém, mais de 90% da lã neozelandesa é exportada na forma bruta, não em produtos acabados – como tapetes e estofados -, o que deixa o país vulnerável às oscilações nos mercados de commodities.

Os ovinocultores dizem que o setor da lã se beneficiaria se tivesse uma voz unificada que promovesse o produto da Nova Zelândia no exterior como uma fibra de alta qualidade, a qual, na sua visão, supera alternativas sintéticas em várias categorias, incluindo qualidade e sustentabilidade. Ter uma voz única poderia ajudar o setor a ir além da China, de longe seu principal comprador, e entrar em mercados relativamente inexplorados, como os Estados Unidos.

Mas o setor neozelandês de lanifício é tido como altamente fragmentado. Havia 35 exportadores de lã operando em todo o país no ano passado, “um nível elevado de descentralização”, considerando os lucros relativamente modestos do setor com a exportação, de acordo com o Grupo Bancário. “Todos acabam se atrapalhando mutuamente”, disse Ross Andrews, pecuarista da Ilha do Sul, que obtém cerca de US$ 3 por quilo da sua lã própria para tapetes.

Os produtores de lã, há muito tempo, partem do pressuposto de que esse setor poderia se defender sozinho, mas há atualmente uma clara necessidade de promover a lã em relação às fibras sintéticas, segundo Sandra Faulkner, promotora dos interesses do setor. Segundo a Beef and Lamb New Zealand, a lã responde por 1,3% da produção mundial de fibras, e os sintéticos chegam a 61,4%. “Trata-se de nos posicionarmos no mercado do luxo, que é onde sempre estivemos”, disse Faulkner.

A matéria é do jornal Folha de São Paulo, adaptada pela Equipe FarmPoint.

Fonte: Farmpoint

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