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Se são todas forrageiras tropicais, o manejo não é igual para todas?

Em um dado momento ouvi uma história que em uma determinada situação o vizinho arou a terra e jogou uma determinada semente sobre o solo. O outro vizinho a esta propriedade o copiou e fez o mesmo. Quando a forrageira nasceu o primeiro vizinho colocou adubo soltou os animais para pastejar e ainda dividiu a área em piquetes. Dito e feito foi copiado na integra pelo vizinho. Em dado momento, por infelicidade a pastagem do primeiro pegou fogo. Não por menos, o segundo vizinho, ateou fogo na sua também… deve ser “bão” ele fez eu faço também. Engraçada, porém trágica, uma piada contada nas rodas de amigos em congressos e palestras por este Brasil. Claramente um fato interessante, mas que infelizmente fazemos com frequência

Copiar o que já existe não é crime, desde que cite a fonte ou ainda, popularmente, quem o fez. Logicamente que os centros de pesquisa trabalham para levar ao produtor uma tecnologia avançada para minimizar custos e aumentar a produtividade. E o que nós teimamos em fazer é generalizar as coisas: se o vizinho fez e deu certo, eu faço também.

Como gosto de conversar e ministrar palestras, ou ainda falar em público, às vezes tem-se a necessidade de chamar a atenção do publico e contamos uma “piadinha”. Depois disso eu discorro sobre um fato muito interessante e digo que, “se somos todos Homo sapiens (espécie humana) e somos todos iguais, devemos todos rir e chorar ao mesmo tempo?” Após a piada, vejo que alguns riram, outros esboçaram um leve sorriso e alguns fecharam totalmente qualquer esboço de felicidade. Este é um ponto interessante quando pensamos em forrageiras.

Claramente que temos no mercado (pensado em Gramíneas) várias opções e temos aquelas que são mais indicadas para climas temperados como a aveia e azevém, dentre outros. Estas, juntos com os demais capins de clima temperado possuem um maior valor nutritivo, porém produzem ao redor de 2 a 2,5 vezes menos que as tropicais (Braquiária, Tanzânia, Coast cross). Comparar forrageiras de clima temperado e tropicais que são muito diferentes parece fácil: para tanto, pensamos que as tropicais podem ser manejadas igualmente (dizem que por serem mais produtivas e mais rústicas) – e esse é um ponto que nós nos enganamos em muito.

Por não serem iguais, merecem um tratamento distinto. Começamos no plantio. Para haver produção e consequentemente correta utilização da pastagem escolhida, é fundamental que se estabeleçam inicialmente, níveis de fertilidade adequados para cada forrageira em questão. São distintas as recomendações para cada forrageira, mas pode-se considerar que para as forragens do Gênero Panicum e Cynodon os níveis de V% (por exemplo) do solo devem estar ao redor de 75 %, sendo que para as Brachiarias, ao redor de 60%. Sendo assim, não podem, desde o início, ser consideradas iguais.

Quanto ao manejo, altura de entrada e saída dos piquetes (Tabela 1) são distintas (Figuras 1 e 2), mas infelizmente são tratadas, as vezes, igualmente e por fim são prejudicadas de modo intensivo. O produtor deve atentar-se para uma forrageira adequada para o sistema de pastejo adotado, uma vez que, para sistemas que se utilizem do manejo rotacionado de pastagens, aconselha-se utilizar as pastagens mais produtivas – sendo elas do Gênero Panicum (Tanzânia) e Cynodon (Tifton e Coast-cros). As espécies do gênero Brachiaria podem também serem utilizadas (sendo estas mais indicadas para sistemas de lotação contínua), porém apresentam menores produtividades e também podem acometer os animais com problemas de fotossensibilização. No caso da utilização de forrageiras do gênero Panicum em sistemas intensivos, o manejo será totalmente prejudicado, pois, quando consideramos que a forragem está fora do seu ponto ótimo de manejo (Tabela 2), ela “passou do ponto” (isso nunca deve acontecer). As forragens deste gênero lignificam muito o colmo (endurecem muito o caule) transformando-se naquilo que dizemos vulgarmente; que o pasto virou um, “pauleira só”. No caso da Braquiária, isso ocorre menos e com isso tem-se o pastejo normal caso ela passe do ponto. Com certeza uma vantagem do gênero sobre um manejo mal feito ou incorreto.

Cabe ainda ressaltar que, embora as forrageiras tropicais apresentem características distintas quanto ao manejo e hábito de crescimento, possuem valores nutricionais semelhantes (AUMONT et al., 1995). Os capins de clima temperado dentre eles o azevém e aveia, apresentam maiores valores nutritivos, porém são menos produtivos, como citado anteriormente.

Entretanto, não podemos, erroneamente, confundir idade cronológica com idade fisiológica. Por exemplo, tomando por base o capim Tifton: com ponto ótimo de manejo de 18 dias, estará fisiologicamente com a mesma idade quando comparado ao capim Tanzânia de 28 dias – seu ponto ótimo.

Tabela 1. Principais espécies ou cultivares de forrageiras com suas respectivas alturas de pastejo

Figura 1 e 2. Capim do Gênero Cynodon e Panicum respectivamente.

Nos sistemas de produção intensiva, o sistema de pastejo com lotação rotacionada é o mais indicado, por garantir maior uniformidade e eficiência de pastejo. Para tanto, o número de piquetes em cada pastagem será em função do período de descanso (PD) (Tabela 2), que varia de acordo com a espécie forrageira utilizada (Tabela 2) e, do período de ocupação (PO), que pode ser obtido pela equação: Número de piquetes = (PD / PO) + 1. O período de ocupação deve ser com menor duração possível, podendo variar de 1 a 8 dias garantindo assim melhor rebrota das plantas e facilitar o controle da lotação da pastagem.

Tabela 2. Principais Gramíneas de forrageiras tropicais com seus respectivos período de descanso

Um bom produtor ou técnico que busque o correto manejo da pastagem ou forrageira utilizada, com certeza absoluta terá sucesso na busca pela eficiência. Para isso, não podemos continuar achando igualdade em tudo que vemos. Cada um possui uma particularidade e se esta for atendida com certeza o sucesso a acompanhará.

Literatura citada

AUMONT, G.; CAUDRON, I.; SAMINADIN, G.; XANDÉ, A. Sources of variation in nutritive values of tropical forages from the Caribbean. Animal Feed Science and Technology, v.51, p.1-13, 1995.

RODRIGUES, L.R.A. Espéceis forrageiras para pastagens: gramíneas. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 8., 1986, Piracicaba, SP. Anais… Piracicaba: FEALQ, 1986. P. 129-146.

O autor desse conteúdo
Marco Aurélio Factori Outro – São Paulo
Prof. Substituto de Nutrição de Ruminantes – DMNA – FMVZ/UNESP/Botucatu-SP

Fonte:Farmpoint

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