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Produtividade anuncia nova revolução tecnológica no campo

Autor do material:
ROBERTO RODRIGUES, ministro da Agricultura no primeiro governo Lula, é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) para as Cooperativas e presidente do Lide Agronegócio. *Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo.

Depois de colher mais uma safra recorde de grãos em 2015, os produtores rurais brasileiros se preparam para um novo ano, com margens potencialmente menores por causa do aumento dos custos de produção e da queda dos preços em dólares, além dos recorrentes problemas de logística e de infraestrutura.

Velhos gargalos continuam incomodando os agropecuaristas, como a falta de uma política efetiva de renda que tenha um seguro rural digno do nome. Também são necessários a modernização do crédito rural e que mecanismos de comercialização sejam mais próximos ao mercado e mais independentes do governo. Há mais problemas que continuam a perturbar o setor, como as legislações trabalhista e ambiental, as quais precisam ser revistas. Além disso, há falta de recursos para pesquisa, extensão e defesa sanitária. Também é necessária maior agressividade no comércio internacional, com acordos bilaterais.

Cobra-se, da mesma forma, a agilidade na liberação de novas moléculas de agroquímicos e a regionalização de políticas públicas, além da definição da questão da terra para estrangeiros e outros trombos que inibem a melhor movimentação da atividade produtiva. Há um tema cuja urgência vai se acentuando: agregação de valor. Embora seja uma falácia a ideia de que exportar commodities agrícolas é um atraso, uma vez que o que se gasta de recursos com tecnologia em um grão de soja ou em uma fibra de algodão é uma enormidade, já passa da hora de ações público-privadas em direção à agregação de valor.

Não se trata de uma questão trivial: a China quer importar soja em grão para fazer a agregação lá e nós queremos exportar o farelo ou até mesmo a carne de frango ou produtos lácteos com a soja e o milho embutidos. Ambos temos razão. Como resolver isso? Com negociação entre governos, visando paulatino aumento das exportações de maior valor.

Outro exemplo: exportamos muito pouco café torrado e moído, enquanto somos o maior exportador mundial de café verde. Ora, basta torrar, moer e exportar, certo? Errado: se não houver acordo com as redes de distribuição no exterior, o café “morre” no porto… Portanto, este é um trabalho de longo prazo que exige uma estratégia acoplada à busca por acordos bilaterais ou regionais, e tem que ser comum entre o governo e o setor privado.

Mas enquanto esses avanços estão sendo perseguidos com vigor pela nova ministra da Agricultura, e dependem da ação do governo todo, os produtores rurais vão encontrando novos caminhos para vencer a acirrada competição internacional. E, uma vez mais, a tecnologia ganha seu merecido destaque. A experiência tem mostrado que não dá para competir sem produtividade elevada.

É comum ouvir nas rodas de sojicultores que “temos que produzir 60 sacas por hectare no mínimo”, ou os produtores de cana perseguirem “três dígitos”: cem toneladas por hectare em média. Os mais ousados preferem plantar uma área menor com a máxima tecnologia que os recursos disponíveis permitem (próprios ou de terceiros) do que plantar a área normal com menor padrão tecnológico. Isso é uma revolução que está começando, e é claro que não é ainda geral, mas significa uma importante mudança de paradigma.

Talvez seja uma segunda revolução tecnológica, como foi a dos anos 1990: depois dos planos de estabilização econômica (Collor e Real) o ajuste feito pelo campo foi baseado em tecnologia. E quem não o fez foi excluído. Um duro ajuste, que outros setores ainda não fizeram, pelo qual pagamos um pesado custo social. Mas chegamos até aqui!

Fonte: Farmpoint

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